A culpa é de quem?
Incorporada, hoje, ao cotidiano dos belo-horizontinos, a discussão sobre a rápida evolução dos problemas no trânsito da capital é pauta que rende debates calorosos, das redações de jornais às mesas de bar. Relatos sobre acidentes e congestionamentos, proposições hipotéticas de melhorias, queixas mil em relação à administração municipal e aos agentes de trânsito são, entre outros, capítulos recorrentes quando o trânsito é o assunto. O curioso, porém, é que as discussões são rasas e, muitas vezes, hipócritas no tocante ao principal “carrasco” do trânsito de BH: a falta de educação.
Com uma assustadora frota de 1,7 milhão de veículos, para cerca de 2,4 milhões de habitantes, a cidade vive, com os reflexos do bom momento da indústria automobilística (aproximadamente 500 veículos emplacados por dia, segundo o DETRAN), um cenário urbano tenso em que a imprudência aparece como causa de 80% dos acidentes ocorridos em 2007.
Infrações facilmente flagradas, como dirigir em velocidade acima da permitida, estacionar em desacordo com a sinalização, dirigir falando ao celular, fechar cruzamento e avançar semáforo temperam o gosto amargo da falta de educação e da imprudência no trânsito de Belo Horizonte. E é nesse ponto em que a discussão torna-se extremamente hipócrita. A culpa individual é escondida embaixo do tapete enquanto os supostos culpados são apontados e as supostas soluções cobradas. Mas quem seriam os culpados?
É público e notório que existem falhas na administração municipal e que o gerenciamento da BHTrans ainda tem muito a caminhar. Mas é demasiado cômodo apontar essas falhas como causa única dos problemas no trânsito, sem antes refletir na parcela de culpa que cada um assume ao agir de forma imprudente e desrespeitosa. É interessante, pois, que cada ator do trânsito joga a culpa para o outro: o motociclista é folgado, o motorista é folgado, o taxista é folgado, o pedestre é folgado e por aí vai. Mas, ao falar de como se comportam no trânsito, a vergonha aflora e é complicado responder “eu sou folgado também”.
Dados que alarmam o problema, como o que mostra que 45% dos acidentes são frutos do avanço de semáforo – atitude clássica de imprudência no trânsito – apontam um preocupante quadro de desrespeito ao próximo e falta de senso de coletividade e cidadania.
Falta, portanto, a cada um que participa do trânsito e, principalmente, aos formadores da opinião pública, percepção e abordagens mais aprofundadas da situação. O trânsito é um problema de todos, e é sob esse conceito que cada cidadão deve orientar seu comportamento no dia-a-dia.
Não se deve apenas esperar do poder público uma resolução imediata, enquanto, no cotidiano, as atitudes pessoais tendem a piorar cada vez mais uma realidade já bem preocupante. A educação e o respeito são primordiais para o exercício da cidadania, e devem acompanhar cada um em todos os setores da sociedade: seja em casa, no trabalho, no lazer ou no trânsito.
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