Wednesday, February 14, 2007

Por um triz

Dias estranhos são aqueles em que vemos o quanto estamos expostos à morte. De repente, ela vem. Ou passa ao lado, zombando, mandando a mensagem "essa foi quase, malandro!". Você está dirigindo rápido, se distrai por alguns segundos, e, do nada, aparece um muro na sua frente. Seu carro tem uma semana de uso. Se não acabasse em tragédia, dor de cabeça ia render. Mas você golpeia o volante para o lado, com uma destreza inexplicável. E está vivo. Por um triz. E tudo parece diferente, parece mais...vivo. Você vê que a vida pode não valer de nada, mas vale de tudo. Pelo menos naquele momento. O coração está pulando, as pernas bambas e as mãos suadas, tremendo. Você percebe que chegar ao fim é muito fácil, seja lá o que for o fim. Percebe que é realmente tênue, a linha que separa a vida, da morte. Olha para o lado e seu amigo parece ter tido um colapso, suando frio, com a boca seca. De medo. Sim, são dias em que você se borra de medo. Dias diferentes.

Thursday, February 08, 2007

Nocaute

Dói muito. Ao menos consegui chegar até aqui, onde posso me sentar. E sentado, espero. Estou na rodoviária. Pessoas dos mais diferentes tipos correm, conversam, gargalham, xingam e gritam. A maioria delas têm pressa. Estão indo viajar. Indo trabalhar. Atrasadas. Irritadas. Ou angustiadas, esperando por ônibus que demoram. Um zoológico diverso - de uma só espécime. E eu transpiro. E sofro. A voz diz: "Senhores passageiros, favor tomarem conta de suas próprias bagagens". E meu estômago dói. Mas não como antes. Hoje ele me nocauteou de vez. Assim, apesar da multidão, só a dor é quem me faz companhia. E com ela, espero. Espero meu médico, que vem correndo. Ele já saiu lá de casa, está a caminho. Vem, como sempre, para me socorrer. Santo de casa faz milagre sim. Tomara, pois sentado, espero. Espero a dor passar. Mas sei que, talvez, ela me acompanhe até meus últimos dias.

Tuesday, February 06, 2007

Na chuva

Olhe, os idiotas correm da chuva
entre as muitas – e irritantes –
de verão
alguns com seus guarda-chuvas,
outros não
Os espertos, estes não correm.
têm carros
ou paciência o bastante para esperarem
nas marquises
Idiota que sou,
corro
corro até encontrar
algum lugar
onde, por cinco paus,
eu possa comprar um guarda-chuva.